segunda-feira, 1 de julho de 2013

Antologia do ônibus nº I

Deslizo por essa cidade fedorenta a bordo de um ônibus apinhado de almas. Amaldiçoo o motorista e desejo câncer a seus parentes mais próximos a cada vez que o miserável breca repentinamente em um ponto para colocar mais passageiros para dentro.

Sei que o sufoco terá fim em breve, pois estou bem familiarizado com o itinerário. Ao longo do caminho, aquela caixa imunda e contaminada despeja passageiros, e eis que, finalmente, vejo um banco livre. Por sorte não é daqueles lugares segregados.

Ignoro gestantes, idosos e até um senhor de muleta - eles que procurem suas malditas cotas. Ocupo o espaço sem o menor peso na consciência, e lanço ao alto um ar triunfal.

Olho pra cima e vejo uma mocinha tentando se manter em pé enquanto equilibra a duras penas uma pilha de livros e cadernos.

Vislumbro uma oportunidade de me distrair um pouco e tornar a viagem mais aprazível. Ao notar o sofrimento da coitada pergunto: "Está pesado?".

A pobre ingênua, esperando que eu me oferecesse para aliviar a terrível carga que ela suportava em seus finos braços, abre um débil sorriso, e, encarando a pergunta como uma corda que lhe havia sido lançada para puxá-la para fora do abismo, ela responde: "Já não sinto meus braços, senhor".

Retruco, então: "Para isso existem mochilas". E findo o assunto. Sinto a luz da esperança se apagar nos olhos da infeliz, e logo sua face se retorce em dor e desespero ao perceber que a corda da salvação era, na verdade, uma serpente peçonhenta dos confins da Amazônia Ocidental. Sem mais a fazer, lanço-me à complexa leitura de um gibi de "Conan, o Bárbaro", e prossigo minha jornada rumo ao centro da cidade, onde um contato me espera para passar mais informações sobre o caso que eu tinha em mãos. O caso Freitag. Quem poderia imaginar que...

CRIIIIIIINCH!

Filha da puta! O motorista brecou violentamente de novo! Vamos ver se ele consegue dirigir com uma fratura exposta no braço. Já volto.

3 comentários:

Pasquale disse...

Elementar, meu caro Lewis.

Problema é aquilo que não sabemos, pelo sim pelo não, classificar de acordo com a simetria da realidade, uni-duni-tê, de modo a poder estabelecer um limite entre o que é e o que não é, pela proporção inversa do avesso do obtuso, ou seja, habeas corpus.

É isso.

Motorista do ônibus disse...

Então foi por sua culpa que minha mãezinha teve câncer no fígado!!!

Vô pegá minha peixeira di 20 centímitro i ti sangrá, seu pião lazarento duma figa.

Braddock disse...

Você fala isso porque tá longe, vagabundo!

Você não é o primeiro a ameaçar Braddock Lewis, mas sei como cuidar de escória como você.

Te dou um tiro de garrucha na cara, rapá!

Falou, mano

Braddock Lewis, o Lewis