sábado, 7 de dezembro de 2013

De volta à Academia... ops, apertei caps lock sem querer, quis dizer academia de ginástica, não uma instituição de ensino

Então, resolvi voltar à academia. Isso mesmo. Estive parado mais por falta de tempo do que de vontade.

Não sou um desses incautos que julgam ser mais importante exercitar a mente do que o corpo. Esses coitados entendem tanto da vida quanto um recém-nascido.

Também não vou à academia por fins estéticos. Não critico quem o faça, afinal que motivo eu teria para me importar com o que os outros fazem ou deixam de fazer com suas vidas cretinas? Já tenho trabalho suficiente criando meu filho por correspondência e tendo que visitá-lo uma vez por década no sul do Putaquepariquistão. Os outros que façam o que bem entenderem da vida, desde que não me encham a paciência nem atentem contra a ordem social e os bons costumes.

Apenas ressalto que ir à academia com essa finalidade é um desperdício de tempo, quando se poderia estar perseguindo objetivos concretos muito mais úteis. É como se um jardineiro podasse uma árvore apenas para deixá-la visualmente atraente, permanecendo alheio ao fato de que a prática torna os frutos mais nutritivos e deixando de aproveitar o alimento. Entenderam? Explicarei melhor (quem sabe?)!

Nessa vida a inteligência, a astúcia e a perspicácia são tão importantes quanto força, agilidade e um sistema imunológico eficiente.

Vivo segundo três princípios: 1) a mente deve ser tão forte quanto o corpo; 2) o corpo deve ser tão forte quanto a mente;  3) a mente e o corpo devem ambos possuir força equivalente, de modo que ao serem somadas e divididas por dois, cada parte volte a seu estado de origem sem sofrer nenhuma alteração de volume ou área.

A questão é: vivemos em tempos bestiais. A cada dia a Gentileza adoece um pouco mais em um leito contaminado em algum hospital imundo; a Cordialidade se tornou uma moribunda que compartilha seringas em becos com a Ternura e a Compaixão, aguardando a dose que lhes colocará fim ao sofrimento; a Fraternidade é uma mendiga louca, que anda por aí entoando frases desconexas; o Respeito, ah, o Respeito... esse saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou.

Nas ruas, nas escolas, nas padarias, o que se propaga é a vilania, o egoísmo, a insensibilidade. A babaquice é o grande mal do século, e na maioria das vezes o diálogo é inócuo para neutralizá-la. Afinal, de nada adianta sua eloquência, suas argumentações, seu raciocínio bem estruturado quando o interlocutor é um verme com o caráter de um estuprador de idosas e a compreensão de um texugo com encefalite progressiva. Às vezes é melhor economizar saliva e deixar os punhos falarem.

Por isso acredito que é preciso se manter pronto para o confronto físico. Afinal, a qualquer minuto você pode ser destratado por um caixa de supermercado e ter de ensiná-lo a tratar um cliente de maneira apropriada; ou ainda talvez você precise abrir caminho para fora do metrô lotado com uma boa dose de empurrões; ou então pode ser necessário ensinar bons modos a algum sujeito que buzina atrás de você no trânsito um micro-milésimo de nano-puto-segundo após o farol ficar verde; ou quem sabe seja preciso colocar algum imbecil de ego inflado em seu devido lugar com meia dúzia de sopapos.

Quando o Apocalipse se instalar - o que não vai demorar muito, pelos meus cálculos -, não pensem que a humanidade se unirá pela desgraça e dará início a uma nova era guiada pela razão e pela bem-venturança.

Nada disso! Será uma grande, sangrenta e interminável batalha pela sobrevivência. Eu sei! Eu vi! Por isso mesmo, tenho o cuidado de manter a forma física assim como a destreza mental, e um bom par de cuecas limpas.

"Mas Braddock, você está pregando a violência?" Ora, que pergunta, é claro que sim! Só que uma violência consciente e positiva. Mas disso tratarei mais para frente, quando eu provar por (A + B) - C/3% que o ditado "não julgues para não seres julgado" não passa de um mantra da opressão!






Academia ao ar livre em Kiev, na Ucrânia. Porque um pouco de tétano não faz mal a ninguém. (Crédito: Marcos Mion)





Mas como eu dizia, me matriculei em uma academia. Nada de especial, nada moderno. Apenas alguns aparelhos enferrujados já são o suficiente para eu me exercitar. Como é costume, precisei realizar aquele tal de exame de saúde. O instrutor, um tipinho esquisito, vestindo uns oito números menores do que o tamanho dele, veio fazendo aquelas perguntas de praxe. “Fuma?”, “bebe?”, “joga?”, "vai ao banheiro com frequência?", “alguma doença grave na família?”. “Sim”, “sim”, “sim”, “s... cale a boca e termine logo com isso”.

Depois disso, o instrutor precisou mostrar como operar aqueles aparelhos. A cada exercício que passava, ele repetia como um mantra: “não esqueça de respirar, hein?”. Tomei aquilo como um insulto. Como assim não esqueça de respirar? Quem se esqueceria de tal coisa? Isso é o tipo de lembrete que você precisa dar a maratonistas aquáticos, uma testemunha de um crime sendo asfixiada com um saco plástico por um mafioso ou ainda aos passageiros de uma aeronave que sofre uma despressurização durante uma turbulência enquanto sobrevoa o Mar Adriático.

Por isso, após a quinta vez que ele repete aquela frase, agarro o maldito pela alça da regata, o levo até um tonel cheio de água da calha e mergulho a cabeça do infeliz. Quando permito a ele emergir novamente, digo para ele: "não se esqueça de respirar, cretino". Então volto a submergi-lo.

Bem, de nada adianta músculos sem agilidade e conhecimento de batalha. Por isso também resolvi praticar artes marciais. No primeiro dia, o professor nota minha técnica e pergunta se eu já havia praticado alguma luta antes. Explico que não, mas nos dias em que vivi nas florestas hiperbóreas eu costumava enfrentar diariamente ursos-pardos para proteger meu estoque de geléia de atum.

O professor então resolve me dar um teste. Ele manda que eu suba no ringue para fazer um sparring com um dos alunos mais graduados de lá, um sujeitinho baixinho e troncudo, muito se assemelhando a um pote de palmito. Ele vem para cima de mim, então, rapidamente, saco meu revólver e dou um tiro na coxa do infeliz. Mais uma vitória em meu cartel.

E é isso. Agora sumam daqui.

Fique mais um pouco e leia uns textos antigos:
Essa história me lembrou uma crítica que fiz de um filme muito famoso. Descubra qual! Vamos, descubra, clique aqui, porra!
Braddock Lewis em: o terror que vem dos céus
Braddock Lewis e o pênalti da discórdia