quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sinfonia da destruição

Música não é meu forte. Você pode dizer que sou um cara insensível, mas não é bem assim. Após passar alguns anos nesse ramo os sentidos se modificam, a audição se ajusta para conseguir captar o sutil ruído de uma Magnum sendo engatilhada em meio à multidão, ou o som de um pino de granada sendo retirado atrás do balcão de um boteco imundo.

No meu carro, a única coisa que toca no rádio é a frequência policial. Meus compositores favoritos são Smith & Wesson. Deleito-me com a rajada de uma submetralhadora em fá menor. Aprecio a melodia do gorgolejar banhado em sangue de um larápio tentando, com seu último sopro de vida, fazer as pazes com Deus (está bem, essa imagem foi um pouco forte, mas essa é a realidade. Encare-a ou seja engolido por ela!).

Simplesmente perdi o ouvido para a música. Ela se reduziu a mero ruído para mim, acordes se tornaram uma massa de sons desconexos, campos harmônicos passaram a ser tão convidativos quanto campos minados.

Mas nem sempre fui assim. Em meus idos anos de juventude, eu gostava de música e almejava fazer dela meu sustento. Até estudei em conservatórios, e cheguei a ser o segundo alaudista (tocador de alaúde) da filarmônica de Varsóvia. Quando a orquestra acabou - por falta de verba e uma epidemia de cirrose que atingiu metade dos integrantes -, parti para novas vertentes.

Naquela época nascia a NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal). Ouvi pela primeira vez as bandas que faziam parte do movimento quando uma tempestade de neve se abateu sobre meu sítio e tive de ficar seis meses preso dentro de casa. Meu único passatempo era um velho rádio movido a diesel, e com uma antena improvisada com uma caneta Bic espetada em um pedaço de queijo eu conseguia captar composições de grupos como Iron Maiden, Motörhead e Saxon flutuando nas frequências sonoras. Fiquei fascinado com aquele som, e comecei a estudar o estilo.

Montei uma banda de heavy metal chamada Os Esmigalhadores de Pão de Alho do Amanhã, que fez um grande sucesso no leste europeu.

Chegamos ao topo das paradas húngaras com o disco The Kids of the Future (Don't Wanna Have More Chicken). Nossos concertos lotavam alas de queimaduras de terceiro grau de hospitais de campanha em assentamentos israelenses; éramos aclamados pelos transeuntes nos metrôs de Nova York e batíamos recordes de gorjetas em caixas de sapato, para inveja dos músicos de rua concorrentes; chegamos até a abrir shows para renomados grupos de flautistas peruanos na Praça da República, em São Paulo.

Meu sonho de viver por meio da música estava encaminhado, mas o destino reservou outro caminho para mim, ou fui eu que escolhi a direção errada naquela fatídica quinta-feira... bem, isso não vem ao caso agora.





(Aí estão meus instrumentos musicais.
Crédito: um atabaque saxofonista)







O que quero dizer é que eu estava no ônibus um dia desses quando ouvi uma cacofonia emanando do fone de ouvido de um jovem por volta de seus 17 anos. Uma batida tribal, repetitiva, primitiva, com uma voz anasalada emitindo palavras que só poderiam ter sido achadas em algum esgoto a céu aberto. Perguntei o que raios era aquilo que ele estava ouvindo e que estava empesteando o ambiente. Ele me disse se tratar de "fânqui" (não confundam com o funk). Interessante, eu disse, então saquei minha navalha e cortei os fios do fone de ouvido do garoto, pincei-lhe o nervo do ombro e disse para ele arrumar um emprego e se tornar alguém na vida.

Fico preocupado ao ver a proliferação de músicas desse nível, que não têm nada a acrescentar à humanidade. Além desses autoproclamados MCs que denigrem o nome do estilo que lançou figuras geniais como James Brown, há ainda universitários sertanejos (que, pela qualidade que apresentam, só podem estar matriculados em alguma UniVocêÉumRetardadoMasNóisAceitaSuaGrana), bandinhas de rock juvenis que fariam Jim Morrison colocar mercúrio líquido na seringa para se poupar do sofrimento de ouvi-las, tocadores de pandeiro com seus sorrisos artificiais ou esses apertadores de botões com sua trilha sonora de fliperama. Entre outras patifarias.

A música atual está intoxicando essa geração que em breve estará à frente de uma nação cujo futuro é achar que tem um futuro. Digam-me: que tipo de cidadão sairá daí? Como os jovens vão se preparar para encarar a vida ouvindo essas músicas? Como estarão preparados para enfrentar um urso, por exemplo?

Vejo nuvens negras se formarem no horizonte. Agora com licença que vou ouvir o disco de Natal da Simone.

4 comentários:

Curioso da Silva disse...

Ei Sr. Braddock, se o senhor ficou seis meses trancado em casa, como conseguiu sobreviver?

Como o senhor se alimentou nesse tempo?

Respostas, meu Deus! Preciso de respostas!

BraddockLewis disse...

Acalme-se senhor Curioso, é muito simples.

Sobrevivi comendo os móveis e partes de minha própria casa.

Sorte que a neve derreteu quando só havia sobrado meu quarto e o banheiro.

Acha um absurdo? Bem, quando a questão é sobreviver, você é capaz de fazer de tudo, se você não for um covarde sem apreço à vida.

Agora caia de queixo no meio-fio.

Tudo de bom aê,
Brad

Moleque Filho da Puta disse...

Moleque FDP: Papai, papai. Você pode me ajudar com a lição de casa?

PAI: Claro, filhão. Qual é a matéria?

MFdP: Ciências, papai. A professora disse que quem não conseguir resolver esses problemas vai ganhar ponto negativo.

PAI: Ora, filhinho, mostre onde você tem dúvida.

MFdP: É nesse probleminha aqui, ó.

PAI: Leia para mim, filhinho, e verei como posso ajudá-lo.

MFdP: Tá bom. Um homem sobe no topo de um prédio de vinte andares e solta uma bola de basquete. A distância entre cada andar é de 1,5m, e a distância do primeiro andar até o chão é de 3,0m. Se a bola pesa 1 Kg e considerando que g=10m/s2, desprezando a resistência do ar, quanto tempo vai levar pro senhor ir tomar no cu, seu velho careca?

PAI: Bem, considerando que... espere um pouco. Deixa eu ver esse problema!

MFdP: Não vai ver nada, seu gordo corno.

PAI: Moleque, agora vai aprender uma lição.

MFdP: Vem pra porrada, viado.

PAI: Menino, larga essa faca. Olha, o que você pensa que está fazendo? Eu sou seu pai! Eu sou seu paaaaaaaaaaaaaii!!!

Bléééééé

Andreas Kisser do Sepultura disse...

Roots.