quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Epíteto, é o que amo

Outro dia, reparei em como não vemos mais pessoas usando chapéus por aí. Isso me fez pensar: o que aconteceu com os epítetos? Em que ponto da história resolvemos descartar esse belo apêndice de nosso cotidiano?

O epíteto facilita a vida de todos. É como um minicurrículo atrelado ao nome. Assim é possível saber o que esperar de alguém sem precisar engajar em nenhum tipo de papo-furado. Salva tempo e energia, ou, como gosto de dizer, mata dois patifes enfurnados em um covil em um bairro da pesada com um golpe de alabarda só.

Ah, bons tempos em que cada nome vinha acompanhado de um aposto . "Ulisses, o bravo"; "Heitor, o prodígio"; "Androceu, o polinizador"; "Jeremias, o criador de porcos". Tempos gloriosos, lembro-me como se pertencesse a um passado remoto que se tornou apenas um borrão em minha memória.

Vejam como os epítetos seriam úteis, ninguém precisaria fazer milhares de entrevistas até encontrar uma babá confiável com quem deixar os filhos. Afinal, seria muito fácil evitar sujeitos como "João, o molestador", "Tião, o pedófilo" ou "Josefina, a sequestradora". Do mesmo modo, nenhum filho contrataria uma enfermeira para cuidar dos pais idosos chamada "Adalgiza, a espancadora de idosos". Ninguém correria riscos pedindo favores para "Rubens, o imprestável", ou emprestando dinheiro para "Heitor, o caloteiro". No mundo corporativo, ninguém promoveria a um cargo de chefia "Roberto, o lesado", e nem colocaria nenhum "José, o desequilibrado" para dirigir uma empilhadeira.

Aliás, acho muito propício, nesse momento, anunciar a campanha mundial que estou lançando aqui no bairro. Chama-se “Epíteto - Escolha o seu, antes que escolham pra você”.

Por via das dúvidas, fiz uma lista de possíveis títulos que podem acompanhar meu nome. Afinal, nunca se sabe quando uma moda vai voltar. Vejam as costeletas, por exemplo. Estão em toda parte agora. Aliás, é bom que quando os epítetos voltarem venham acompanhados de suspensórios. Não entendo porque paramos de usar suspensórios. E broches.

Segue a lista, fiquem à vontade para utilizar como for conveniente:

Braddock Lewis, o sábio

Braddock Lewis, o prudente

Braddock Lewis, o sagaz

Braddock Lewis, o temível

Braddock Lewis, o esclarecido

Braddock Lewis, o esclarecedor

Braddock Lewis, o inevitável

Braddock Lewis, o interlocutor

Braddock Lewis, o associável

Braddock Lewis, o parcimonioso

Braddock Lewis, o retilíneo

Braddock Lewis, o imperscrutável

Braddock Lewis, aquele que não perdoa

Braddock Lewis, aquele que não deve ser nomeado, a não ser como Braddock Lewis, aí beleza

Braddock Lewis, aquele que nunca esquece

Braddock Lewis, aquele que não se distrai

Braddock Lew... EI, VEJAM, UM BOTÃO!!!

Braddock Lewis, o guardião do Destino

Braddock Lewis, o fiscal do Destino

Braddock Lewis, o corregedor do Destino

Braddock Lewis, o coletor de impostos do Destino

Braddock Lewis, o procurador-geral do Destino

Braddock Lewis, o servidor lotado no gabinete geral do Ministério do Destino em Guaratinguetá (SP)

Braddock Lewis, aquele que só fala uma vez

Braddock Lewis, aquele que nunca esquece

Braddock Lewis, aquele que jamais deixa uma tarefa incompleta

Braddock Lewis, aq

































Ops,

Braddock Lewis, o preponderante

Braddock Lewis, o ineditável

Braddock Lewis, o arauto da verdade

Braddock Lewis, a pedra no sapato da humanidade

Braddock Lewis, o fiapo de manga entre os molares da sociedade

Braddock Lewis, a farpa de madeira debaixo da unha do mundo

Braddock Lewis, o peteleco na orelha do conformismo

Braddock Lewis, o piparote no gogó do Universo

Braddock Lewis, o golpe de toalha molhada nas nádegas do Cosmo

Braddock Lewis, o cisco no olho do Progresso

Braddock Lewis, a espora nas ancas da Modernidade

Braddock Lewis, a anchova na pizza de frango com catupiri da raça humana

Braddock Lewis, aquele que nunca esquece

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